Narrativa
Eu lutei contra essa verdade. Pensei e refleti muito sobre o meu objeto. Eu, jovem de 20 anos, que já morei em mais de 3 cidades diferentes e mergulho constantemente em processos de desapegos materiais, matutei arduamente sobre qual é o meu objeto mais biográfico, que dentro de si, só por ser o que é, carrega parte de mim e de minha história. A decisão foi esta, o objeto que anda comigo para lá e para cá quase que instintivamente. Que é tão meu e tão colado em mim que quando não o possuo me sinto nua, incompleta, fragmentada. Eu lutei contra estes fatos, é difícil reconhecer essa interdependência com algo ão morto e tão descartável. Porém, é uma realidade inegável que este objeto carrega memórias impagáveis e que esteve em contato com minhas mãos trêmulas nos dias de medo, de dores e ainda, não menos importante, nos dias de alegrias estonteantes. Este objeto foi peça fundamental para proporcionar reencontros de olhares, mesmo que com a distância separando os corpos; Foi veículo para as fotografias dos dias mais especiais que já vivi; E, ademais, conectou-me com diversas informações sobre o mundo, permitindo-me viajar milhas e milhas sem gastar 1 real. Por isso e por outras, que o escolhi como merecedor deste papel de objeto biográfico. Dentre as coisas belas e conceituais que me cercam, talvez ele esteja entre as mais fúteis e generalizadas, funcionais e ordinárias. Entretanto, hoje eu não escolho ver assim. Transmuto meu olhar para um carinho afetuoso de gratidão. A minha escolha é conscientemente traçar [e observar e acolher] os caminhos que eu e ele percorremos juntos e que só hoje já foram tantos.