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Louças azuis
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Miniatura
Título
Louças azuis
Narrativa
Louças Azuis Tenho umas louças antigas em casa que não são porcelanas nem cristais, são pratinhos e jarra de colorex na cor azul anil. Essas louças, em desuso e sem material nobre, poderiam ser facilmente descartáveis. Eu as ganhei por herança, para ficar na vista e na lembrança, da minha irmã que partiu. Minha casa nunca foi muito arrumada, dessas que arquiteto decora. Sempre fui compondo os ambientes, com o dinheiro que tinha, ou com a falta dele, recorrendo a móveis de segunda mão ou a doação da família e amigos. Aprender a garimpar móveis e utensílios em classificados e lojas de móveis usados, se tornou até um hobbie além de uma opção viável para mim, batia com meus valores, de baixo consumo, inclusive de bens duráveis. Os pratinhos rasos de pão, utilizo como suportes para meus vasos de flor miúdas e a jarra, transformei num vaso lindo, num arranjo sem igual. Essas louças se alinham perfeitamente e se harmonizam com tudo que tenho na minha casa. Elas guardam as digitais, de carinhos e conversas, de colhimento e sabores, dos melhores bolos e assados que já provei na vida. Trazem consigo ainda, o testemunho da beleza dos meus vestidinhos de infância, feitos sob medida pela minha irmã querida, excelente costureira. Guardo em meu armário, uma pequenina leiteira branca com um ramo de flor pintado em cada lado e que pertenceu à minha mãe. Gosto dessa lembrança, do primeiro leite da vida. Sempre gostei daquelas casa do interior do estado de Santa Catarina, que exibem nas paredes de madeira os vasos feitos de latas de óleo e tintas. Geralmente são as mulheres que cortam a lata e batem com o martelo a borda até deixar lisinha para não oferecer perigo de corte. Com muita habilidade deitam aí suas plantinhas que posteriormente serão afixadas na parede a enfeitar a casa. Ouvi falar de umas casas na Polônia, em uma cidadezinha chamada Zalipie, onde todas as casa tem flores pintadas à mão nas fachadas e nas janelas. Sou louca para conhecer e já coloquei na minha lista de desejos de viagem. Uma das histórias que li sobre a origem dessas pinturas fala que, há um século atrás, algumas moradoras, querendo deixar a casa mais bonita para o dia de Corpus Cristhi, começaram a pintar as paredes até o teto de suas casas com flores coloridas que ajudavam a disfarçar a fuligem feita pelo fogão. As estampas foram se tornando um costume local e, em 1948, inspiraram o The Painted Cottage, uma competição de pinturas que consiste em criar ou retocar seus próprios arranjos florais nas paredes das casas, ao redor das janelas e das portas. A disputa, segundo informa essa mesma história, surgiu como uma forma de ajudar o país a se recuperar psicologicamente dos horrores da segunda guerra. Quero muito me encantar com tantas cores, tantas formas e visitar a cidade e o museu de Felicja Curylowa, a mais famosa pintora da cidade. A memória mais individual é sempre a memória de um grupo, uma classe social. Essas louças e essas casas de flores plantadas nas latas, além da lembrança, não me deixam esquecer de minhas raízes e são um dos pilares de minha história, de minha identidade e com esse reconhecimento, pertencimento, essa memória, não me despedaço, existo e sou capaz de Sonhar com, entre outros sonhos, viajar para a Polônia para conhecer as casas floridas. Neusa Müller weber( Neusa Gelsleichter)
Descrição da Imagem
Conjunto de louça composta por dois pratos e uma jarra azul anil translucida de colorex.
Doador
Neusa Gelsleichter


