Meu pai, Raimundo Nonato dos Anjos, trabalhou a vida toda como sapateiro. Além de fabricar calçados, ele também consertava. Muitas vezes, as pessoas deixavam os calçados para conserto e nunca mais retornavam para buscá-los. Quando meu pai faleceu, em 2018, foram deixadas dezenas de calçados na sua oficina de trabalho. Esses calçados nunca foram reclamados. Exponho um dos pares de calçados que foram deixados. Um par de sapatos femininos. Por onde andaram esses sapatos? Que caminhos percorreram? Carregam memórias dos pés de quem? Será que dançaram? Especulo sobre lembranças que não tenho, portanto gravo invenções. Uma memória (re)criada a partir dos pés (in)visíveis.
Descrição de Imagem
Sapatos pretos com detalhes dourados, tipo Scarpin, salto alto.