Narrativa
Brinquedo de infância de mamãe, que hoje, de cabelos branquinhos, aguarda paciente o toque dos 70. Em sua infância, ela conta que brincava de passar roupas com este pequeno brinquedo de ferro de passar. Talvez a única lembrança física de uma época em que crianças nasciam sem ter brinquedos elétricos, sem nem mesmo saber o que poderiam ser os eletrônicos, sem brinquedos de plástico. Ou era ferro ou madeira, quem sabe pano para as crianças mais pobres. Quem sabe minha mãe tenha um dia desejado uma boneca de porcelana. Ela me explicou que colocava brasa no corpo do ferro de passar, a parte de baixo aquecia e lá se ia mamãe, toda feliz, passando roupas de bonecas de pano em sua pequena estatura. Eu, menino, nunca brincaria de passar roupas, o costume impedia. E com minha pouca idade, jamais me seria permitido brincar com fogo. Além do mais, em casa de botijão de gás, quem teria brasas para colocar no ferro de passar de brinquedo? Para mim, ou era navio ou submarino aquele objeto sem uma forma muito clara. O brinquedo de menina, décadas depois, serviu de brinquedo também para um menino, que deu novo uso ao objeto que parecia ter periscópio. Meus brinquedos não serão conhecidos pelas próximas gerações, mas as crianças que brincavam de imitar adultos, com brinquedos de ferro e madeira, vão deixar marcas de uma infância com queimaduras de brasa, que afinal, eram brincadeiras de criança.