Narrativa
Vendemos a casa logo depois que meu pai morreu. E foi por puro acaso que resolvi dar uma última olhada dentro do armário. Escondido na penumbra estava o quadro. Emocionada, limpei a poeira da moldura e dei uma insegura mirada. Ali estava ele. Sua mais pura essência. A pintura mostrava a alma do meu pai. O mar. A pesca. Sua paixão. Mais que uma religião. A entrega total do corpo à atividade física. Todo ele estava no gesto de empurrar a canoa pra fora do mar. Ali também os pescadores seus amigos. Pendurei o quadro no meu espaço predileto. Só agora, olhando com atenção, percebo o quanto ele me ensinou. O quanto o amei. O quanto dele guardo em mim.