Narrativa
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que de um pássaro sem vôos” (Antônio Cícero). ..... O ano é 2018. Retorno à sala de aula de Introdução ao Estudo do Direito, a primeira vez na disciplina após o ingresso como docente na UFPel. Maracanã (a sala do 1 ano) lotado naquela noite de início de ano. Uma gente curiosa, cheia de perguntas, de exemplos, de convicções. Foram propostas tarefas trabalhosas, teoricamente densas, com investigação empírica em uma realidade frequentemente entristecedora. O quanto é difícil pensar um ensino jurídico imbricado nos três fundamentos da universidade? Ensinar, pesquisar, retornar o conhecimento para a comunidade? Pensei cá comigo: vai ter resistência. Mal sabia eu das noites que viriam. Da alegria partilhada, das pequenas gentilezas, da admiração recíproca. Dos júris simulados, das investigações de campo, da coragem necessária para tudo isso. Depois, em anos vindouros, em encontros pelos corredores da Faculdade. Crescidos, fazendo estágios, escrevendo seus TCCs, conquistando o mundo. Hoje, o vôo está próximo. Esse ritual de formatura que consolida seis anos de estudos. Fico imaginando 05 anos à frente. 10? 20? Serão sempre, sempre minhas e meus bixos. Serão guardados nesta viagem muito louca que é a vida. Acarinhados, admirados. Porque mais vale “guardar o vôo de um pássaro, do que de um pássaro sem vôos”. Obrigada por tanto. Sempre, sempre obrigada. E eu permaneço aqui, na Faculdade, aguardando os voos de retorno à nossa casa.