Narrativa
"Objet-trouvé" é um conceito do campo da Arte que refere-se a um objeto encontrado pelo artista em suas andanças. O artista guarda aquele objeto e o legitima como obra de arte pelo seu próprio ato de coletá-lo e posteriormente exibí-lo, com pouca ou nenhuma alteração material. Este objeto que aqui exponho nada mais é do que um pequeno pedaço de um galho de árvore. Guardo ele até hoje, desde o dia em que o juntei do chão quando, ainda criança, passeava pela praia do Cassino com meu avô Nelly. Considero aquele toquinho o meu prmeiro objet-trouvé. Na época, eu imaginava que com ele começaria a construir uma casa na árvore. Então, ao voltarmos da caminhada, nos fundos do chalé onde passei os verões da minha infância, meu “avô-faz-tudo”, como eu o chamava, pintou o toquinho de branco, conforme eu lhe pedi, usando algum resto de tinta que havia sobrado na garagem, enquanto a vó Léa fazia suco de uva num panelão e servia cebolinha frita de aperitivo. A casa na árvore nunca saiu, pois logo mudei de ideia e resolvi que iria guardar o toquinho até virar pedra – eu havia recém descoberto, em algum livro de ciências na biblioteca do colégio, que a madeira poderia se petrificar após muitos anos. E muitos anos antes de saber o que era uma deriva artística ou um objet-trouvé, eu acompanhava meu avô nessas caminhadas após o almoço; pelo caminho juntávamos parafusos, pregos, porcas, arames, que depois eram guardados na garagem, sem qualquer ordenação, em vidros vazios de Nescafé. Com meu avô, eu aprendi a caminhar, observar e colecionar.