Narrativa
Na foto, um alfenim nas mãos de minha avó materna. Alfenim é um doce árabe que veio para o Brasil a partir da colonização portuguesa. Vovó Silvinha, mais conhecida por Dona Silvia Curado, é uma das mulheres responsáveis por ajudar a construir a cultura doceira do Brasil. Nasceu e mora até hoje na Cidade de Goiás. Há mais de 60 anos, ela produz os alfenins em sua casa. Alfenim é feito à base de açúcar, polvilho, água e limão. Moldado a mão e com o auxílio de uma tesourinha de costura, ainda com a massa quente. Vovó molda bichinhos e flores e deixa-os secando a beira no fogão a lenha. O doce chegou ao Brasil durante a colonização portuguesa, e tem registro até o momento, no estado de Goiás e na Bahia. Tradição passada de geração em geração, o alfenim é até hoje o sustento de minha avó e que ajudou a criar seus dez filhos. Agora, fugindo da parte histórica um pouco, trazendo para a memória e parte afetiva, Dona Silvia, a vovó Silvinha, nos visitava no Rio Grande do Sul, onde nasci e vivi 18 anos da minha vida, de ônibus, pois tinha medo de avião. Eram dois dias de viagem, e ela fazia essa viagem duas vezes ao ano, sempre acompanhada de uma de minhas tias. Ela fazia questão de sempre levar uma caixa enorme, ou que pelo menos parecia ser talvez por eu ser pequena na época, de alfenins. É um doce frágil e delicado, que precisa de muito carinho e cuidado em seu transporte. Para muitos, o alfenim tem gosto de açúcar e polvilho, têm pessoas que inclusive consideram um doce sem graça. Para mim, Alfenim tem gosto e leveza de infância, e um cheiro que só sei descrever com sentimentos. As mãos dela moldaram esse passarinho, e isso sim me encanta. Me encanta um doce tão pequeno e simples carregar tamanhas histórias de vida, sustentar uma família bem grande, carregar cheiros e memórias que só que cresceu podendo comer esse doce, sabe descrever, talvez. Como simbologia, as mãos constroem.