Os objetos que uma pessoa junta ao redor de si formam uma espécie de marca que todos nós deixamos para trás ao morrer. Eu tenho pensado bastante nisso, no último ano. Minha irmã mais nova morreu e eu me mudei para o apartamento dela com a missão de dar um destino a essa marca que ela deixou no mundo. É um pouco melancólico ver todas as coisas agora órfãs, o que era especial misturado sem critério com a tranqueira que foi ficando por acaso, mas também é bonito pensar que elas serão ressignificadas, que vão ganhar novas camadas de história. Antes de tudo isso acontecer, eu já gostava de ouvir ou imaginar as histórias de objetos que já tinham passado por outras vidas, sempre passei horas em sebos, feiras de velharias. No meio das tantas coisas que ajudei a organizar, doar, vender, ressignificar do ano passado para cá, eu escolhi esse pato de borracha para ficar comigo. Não sei se ele foi especialmente importante para a minha irmã, nem se ela chegou a dar um nome para ele. Não sei nada sobre a história anterior que ele traz. Para mim, ele se chama Alfredo, e ganhou a missão especial de ser uma lembrança dela nas próximas casas que eu tiver.
Descrição de Imagem
Pato de borracha, colorido (possivelmente na cor amarela). Possui em detalhes uma franja em auto relevo, dois olhos e um bico.