Faz quase um ano que aluguei o apartamento no qual moro sozinha. Lembro da primeira impressão, pensada em voz alta para trazer boa sorte: Serei muito feliz aqui! disse. Ainda não é possível confirmar resoluções dessas palavras. Talvez o que ocorreu no primeiro dia de mudança possa ser o indício do estado de espírito necessário para viver/sobreviver na ilha que este espaço se tornou, quando um casal de amigos que conheci nos tempos da faculdade se padeceu em ajudar a colega, sozinha em uma nova cidade. Entre o sobe e desce das escadas, carregando as caixas, Leonardo notou que a porta de entrada batia com o vento, mesmo fechada. Solícito, pregou adesivos de feltro no batente da porta, mas, ao testar a eficácia desta engenhosidade, encerramos aquela tarde com a chave quebrada dentro da fechadura e uma porta que insistia a bater. A mudança foi finalizada e a amizade permanece segura à distância. Que ironia o isolamento social ser um ato de amor. Só não é maior que a ironia da porta que até dias atrás era insistente ao menor indício de ventania. No supermercado, toda mascarada, ao passar pelo caixa, acho um aparador de porta entre itens de desistência de outros compradores e lembro que preciso me esforçar um pouco mais para habitar a ilha. Quem sabe, brevemente, a campainha seja o único sinal de que algum amigo está à porta. Aparador de porta feito em madeira, colorido com a caixa em azul e escrito "BEAR" em branco.
Descrição de Imagem
Possui a cabeça de um urso de desenho animado na parte de cima e um cordão.