Narrativa
O Pretão, que na verdade não é tão preto assim, é um motoradio que está na minha família há uns 40 anos. Ele foi comprado pelo meu avô, que o apelidou assim, ele veio a falecer alguns anos depois, e o Pretão passou a ser da minha vó, que sempre zelou e cuidou do rádio, pois era a única coisa que ela tinha para lembrar do meu avô. Quando eu tinha 5 anos, meus pais se separam, e eu fui morar na casa da minha avó, que vivia com minha tia deficiente visual. Era em uma casa humilde, que nem mesmo tinha televisão, escutar radio era o principal entretenimento, principalmente para a minha tia cega. O rádio ficava ligado praticamente o dia todo, isso fez eu me conectar com vários programas de rádio, em especial o “violas e repentes”, que é um programa de grande tradição da radio Educadora do Nordeste. Em 2008 minha vó também faleceu, e o Pretão passou a ser da minha tia, que mora comigo até hoje. Ele ainda funciona, porém algo muito triste aconteceu recentemente, todas as rádios da minha região passaram a ser apenas na frequência FM, sendo que o modelo do Pretão é antigo e só reconhece frequências AM. Com isso ele se tornou inoperante, sua vida útil chegou ao fim. Na sociedade consumista em que vivemos, a maioria dos produtos são datados, feitos para serem substituídos a curto prazo. Porém o Pretão é mais que um rádio, é mais que um simples objeto, ele é uma lembrança viva de toda uma geração, e algo assim é insubstituível. Pretendo guardá-lo, e repassa-lo quando chegar a hora.